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  • 2 de jan. de 2013

    As especulações que circulam no meio espírita (*)


    Astolfo Olegário
    Astolfo O. de Oliveira Filho – De Londrina




    No artigo intitulado “Supostas reencarnações de Chico Xavier”, publicado no dia 2 de dezembro último na revista “O Consolador”, Paulo da Silva Neto Sobrinho examinou duas listas publicadas em livros, pertinentes a supostas vivências de Francisco Cândido Xavier. O link que remete ao artigo é este: http://www.oconsolador.com.br/ano6/289/paulo_neto.html

    Trata-se, em ambos os casos, de ideias sem nenhuma fundamentação séria e que não passam, segundo pensamos, de pura especulação. Por sinal, especulações é que não faltam atualmente no meio espírita, pelo menos aqui no Brasil.

    Na lista mais recente, seus organizadores, com o propósito evidente de endeusar o médium, o associam a personalidades como Platão, Francisco de Assis, João Evangelista e Allan Kardec, ou seja, Chico Xavier e todos esses vultos seriam, em verdade, para essas pessoas, o mesmo Espírito.

    Quando o assunto chegou ao nosso conhecimento, é evidente que o lemos com tristeza, primeiro porque entendemos que não pode haver espaço na imprensa espírita para matérias desse nível, claramente especulativas. Dar-lhes curso foge completamente à proposta feita por Kardec e ao método por ele utilizado na codificação da doutrina espírita. 

    Em segundo lugar, porque até para as tolices existe um limite, visto que elas, quando exageradas, produzem uma péssima imagem daqueles que as disseminam.

    Vejamos, no caso em tela, a associação que é feita entre Chico Xavier, Platão e João Evangelista, já que no tocante a Kardec autores bem mais articulados já se manifestaram.

    Se Chico Xavier fosse Kardec, João Evangelista e Platão, como se explicariam o texto assinado por Platão em resposta à questão n. 1009 d´O Livro dos Espíritos e a menção dos nomes de João Evangelista e Platão como coautores da mensagem mediúnica que integra os Prolegômenos do mesmo livro, ao lado de Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O Espírito da Verdade, Sócrates, Fénelon, Franklin e Swedenborg? 

    A mensagem constante dos Prolegômenos, firmada pelos Espíritos citados e por Platão e João Evangelista, é dirigida especialmente a Kardec, como ele próprio explica no trecho que adiante reproduzimos: 

    “Eis em que termos nos deram, por escrito e por muitos médiuns, a missão de escrever este livro: ‘Ocupa-te, cheio de zelo e perseverança, do trabalho que empreendeste com o nosso concurso, pois esse trabalho é nosso. Nele pusemos as bases de um novo edifício que se eleva e que um dia há de reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e caridade. Mas, antes de o divulgares, revê-lo-emos juntos, a fim de lhe verificarmos todas as minúcias. Estaremos contigo sempre que o pedires, para te ajudarmos nos teus trabalhos, porquanto esta é apenas uma parte da missão que te está confiada e que já um de nós te revelou. Entre os ensinos que te são dados, alguns há que deves guardar para ti somente, até nova ordem. Quando chegar o momento de os publicares, nós to diremos. Enquanto esperas, medita sobre eles, a fim de estares pronto quando te dissermos. Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque é o emblema do trabalho do Criador. Aí se acham reunidos todos os princípios materiais que melhor podem representar o corpo e o espírito. O corpo é a cepa; o espírito é o licor; a alma ou espírito ligado à matéria é o bago. O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e tu sabes que só mediante o trabalho do corpo o Espírito adquire conhecimentos. Não te deixes desanimar pela crítica. Encontrarás contraditores encarniçados, sobretudo entre os que têm interesse nos abusos. Encontrá-los-ás mesmo entre os Espíritos, por isso que os que ainda não estão completamente desmaterializados procuram frequentemente semear a dúvida por malícia ou ignorância. Prossegue sempre. Crê em Deus e caminha com confiança: aqui estaremos para te amparar e vem próximo o tempo em que a Verdade brilhará de todos os lados. A vaidade de certos homens, que julgam saber tudo e tudo querem explicar a seu modo, dará nascimento a opiniões dissidentes. Mas, todos os que tiverem em vista o grande princípio de Jesus se confundirão num só sentimento: o do amor do bem e se unirão por um laço fraterno, que prenderá o mundo inteiro. Estes deixarão de lado as miseráveis questões de palavras, para só se ocuparem com o que é essencial. E a doutrina será sempre a mesma, quanto ao fundo, para todos os que receberem comunicações de Espíritos superiores. Com a perseverança é que chegarás a colher os frutos de teus trabalhos. O prazer que experimentarás, vendo a doutrina propagar-se e bem compreendida, será uma recompensa, cujo valor integral conhecerás, talvez mais no futuro do que no presente. Não te inquietes, pois, com os espinhos e as pedras que os incrédulos ou os maus acumularão no teu caminho. Conserva a confiança: com ela chegarás ao fim e merecerás ser sempre ajudado. Lembra-te de que os Bons Espíritos só dispensam assistência aos que servem a Deus com humildade e desinteresse e que repudiam a todo aquele que busca na senda do Céu um degrau para conquistar as coisas da Terra; que se afastam do orgulhoso e do ambicioso. O orgulho e a ambição serão sempre uma barreira erguida entre o homem e Deus. São um véu lançado sobre as claridades celestes, e Deus não pode servir-se do cego para fazer perceptível a luz’.” (O Livro dos Espíritos, Prolegômenos.)

    Acrescente-se ainda, com respeito a Platão, a mensagem que ele transmitiu na Sociedade Espírita de Paris em 6 de dezembro de 1866, por intermédio do Sr. Bertrand, conforme nos informa a Revista Espírita de 1867, pp. 84 a 87. Registre-se que as sessões da Sociedade eram dirigidas por Kardec.

    Se as observações feitas não são suficientes, seria bom que alguém explicasse como foi possível a João Evangelista comunicar-se mais de uma vez na Sociedade Espírita de Paris, como o próprio codificador do Espiritismo informa na Revista Espírita de 1864, pp. 357 e 358, ocasião em que João escreveu: “Uma estreita comunhão liga os vivos aos mortos. A morte continua a obra esboçada e não rompe os laços do coração. O amor é a lei do Espiritismo. O grande nome de Jesus deve flutuar como uma bandeira acima de vossos ensinos”, um fato que se repetiria dois anos depois, conforme está registrado na Revista Espírita de 1868, pp. 52 a 54.

    São também de João Evangelista a mensagem “Deixai que venham a mim as criancinhas”, transmitida na Sociedade Espírita de Paris em 1863, constante do item 18 do cap. VIII d´O Evangelho segundo o Espiritismo, bem como o texto recebido mediunicamente constante do item 53 do cap. XV de A Gênese.

    Vê-se, pelos poucos exemplos citados aqui, que falta aos especuladores não apenas discernimento, mas conhecimento de informações básicas que qualquer principiante espírita tem obrigação de saber. E quando recusamos publicar tais tolices, os que as divulgam se magoam e tacham nosso periódico de não observar os requisitos de imparcialidade que devem nortear a imprensa espírita.

    (*)Publicado no jornal “O Imortal” de janeiro de 2013, pág. 4.