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  • 20 de mai. de 2016

    SOBRE A QUEDA DOS ANJOS E KARDEC

    Fernando Rosemberg

    ALLAN KARDEC E QUEDA ESPIRITUAL

    Sabe-se que alguns espiritistas modernos detestam a ideia da Queda Espiritual; o que reflete sua ignorância sobre tal tema. E ainda questionariam: Quais as passagens, encontradiças no Espiritismo de Allan Kardec, se referem à referida Queda? E respondo que tratarei de citar diversas obras bem conhecidas de nós todos: estudiosos espiritistas que somos:

    “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” (AK – 1857 - Ide):

    Ora, sobre tal questão, da Queda Espiritual, citado “Livro” é um tanto controverso, o que é compreensível, pois que tal “Livro”, consoante as próprias palavras do Codificador: “não é um Tratado Completo de Espiritismo”; mas citemos a questão 262 em que os Espíritos reveladores se referem àqueles (humanos) que não lhes escuta os bons conselhos e se extraviam:

    É o que podemos chamar a Queda do homem” (sublinhado nosso). (Opus Cit. - Ide).

    Ora, Queda do homem é Queda do Espírito, o seu comandante, afinal. Neste mesmo “Livro” os Espíritos superiores informam que:

    “O Mundo Espírita é o Mundo Normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo. O Mundo Corporal (Universo) não é senão secundário; poderia cessar de existir, ou não ter jamais existido, (sublinhado nosso) sem alterar a essência do Mundo Espírita”. (Opus Citado – Ide).

    Ora, se o Universo poderia jamais ter existido, pergunta-se: o que ocorrera no Mundo Espiritual para que o Mundo Corporal passasse a existir? Para nós, só a Queda Espiritual pode explicar racionalmente a tão relevante questão, pois que, não a fosse, o Universo, ou Mundo Corporal, poderia: “não ter jamais existido”.

    Mas passemos a outra obra codificada:

    -“O Evangelho Segundo o Espiritismo” (AK – 1864 - Ide):

    Vejam a mensagem do Espírito Vianney, cura d’Ars, contida em seu Capítulo 8, onde se lê:

    “Meu Pai, curai-me, mas fazei que minha Alma doente seja curada antes das enfermidades do meu corpo; que minha carne seja castigada, se preciso for, para que minha Alma se eleve a te vós com a Brancura que tinha quando a criastes”. (Opus cit. - Ide).

    Ora, vejamos que não se trata, pelo texto, da criação de Espíritos Simples e Ignorantes (ESI); mas sim, pelo texto, vemos a Alma como Espírito Puro, Consciente (EPC): “com a Brancura que tinha” em sua criação. Logo, o Espírito Simples e Ignorante (ESI) resulta da Queda Espiritual, da “Alma doente”, de que fala o texto supra mencionado.

    Vejamos agora outras passagens do Codificador:

    -“Revista Espírita” (Allan Kardec – Outubro de 1858 – Edicel):

    Em tal “RE”, um Ente comunicante que sempre mostrara “SUPERIORIDADE COMO ESPÍRITO” - segundo Kardec - fala sobre o destino de um elemento que praticara um crime horrendo, preconizando que o mesmo poderia, até mesmo, destinar-se: “para um lugar onde o homem se encontra no nível dos animais”; é um adicional ou exemplificação do que se encontra em “OLE” sobre a “queda do homem”, citada mais acima.

    E, mais ainda, se tal “RE” (1858) menciona a ‘Queda Parcial’, ou seja, durante o Processo Evolutivo, ela também faz menção à ‘Queda Geral’, ou seja, àquela que, dos Espíritos Puros e Conscientes (EPC) que, por Involução, gerara os Espíritos Simples e Ignorantes (ESI); senão vejamos:

    “Sua punição é justamente retrogradar; é o próprio inferno. Eis a punição de lúcifer, do homem espiritual, descido à matéria, isto é, o véu que daí por diante lhe oculta os dons de Deus e sua divina proteção. Esforçai-vos, pois, na reconquista desses bens perdidos: tereis reconquistado o paraíso que o Cristo veio abrir para vós. É a presunção, é o orgulho do homem, que queria conquistar aquilo que só Deus podia ter”. (todos os sublinhados são nossos). (Opus cit.).

    Mas vejamos, ainda, mais uma menção da obra do Codificador Allan Kardec:

    -“Revista Espírita” (Allan Kardec – Junho de 1862 – Edicel):

    Menção que, aliás, é das mais expressivas no tocante ao tema que estamos cogitando:

    “Voltai sempre os olhos para este pensamento filosófico, isto é, cheio de sabedoria: Somos uma Essência criada Pura, mas decaída; (sublinhado nosso); pertencemos a uma Pátria onde Tudo é Pureza; culpados, fomos exilados por algum; mas só por algum tempo”. (Opus cit.).

    E Kardec, na mesma “RE” de 1862 (Janeiro), tratando dos ‘Anjos Decaídos’, não é contrário a ideia da Queda:

    “Para evitar qualquer equívoco, conviria reservar a expressão ‘anjos’ para os Espíritos Puros e chamar os demais apenas Espíritos bons ou maus. Prevaleceu, entretanto, o uso da expressão ‘anjos decaídos’; mas não a tomamos na sua expressão geral. Ver-se-á, neste caso, que a ideia de Queda e de Rebelião é algo perfeitamente admissível (sublinhado nosso)”. (Opus Cit.).

    E, mais adiante, falando sobre a evolução dos Espíritos, declara que eles:

    “... progridem intelectual e moralmente; que em virtude do livre arbítrio, uns tomaram o bom caminho, outros um caminho errado; que uma vez posto o pé no atoleiro, se afunda cada vez mais (queda espiritual: sublinhado nosso); que depois de uma seqüência ilimitada de existências corpóreas, realizada na Terra e em outros Mundos, depuram-se e chegam à perfeição, que os aproxima de Deus”. (Opus Cit.)

    E declara mais adiante:

    “... que a ideia dos anjos rebeldes, anjos decaídos, paraíso perdido, se acha em quase todas as religiões e no estado de tradição entre quase todos os povos”. (Opus Citado).

    E acentua, com gravidade:

    “Ela deve, pois, assentar-se numa verdade”.(Opus Cit.).

    Ou seja, antes de Kardec, temos os muitos Profetas Bíblicos e até mesmo o Mestre Nazareno relatando os fatos da Queda Espiritual; e depois de Kardec, vemos os mesmos relatos com Pietro Ubaldi e ‘Sua Voz’, e com Espíritos operando com médiuns estranhos uns aos outros no Mundo inteiro para ratificar as verdades ubaldianas, bíblicas e cristãs; além dos Espíritos ‘Emmanuel’, ‘André Luiz’, ‘Augusto dos Anjos’, pela mediunidade altaneira de Francisco Cândido Xavier, tratando do mesmo tema.

    Sendo mui coerente, pois, que não se despreze referida Consensualidade Universal, pois o Espiritismo é ‘Ciência do Infinito’, que se amplia e se desenvolve, pois, no continuum formalizado pelo tempo-evolução e até mesmo além dele, na Transcendente e Divina Espiritualidade.

    UM FORTE ABRAÇO A TODOS

    Fernando Rosemberg Patrocinio

    Blog: - filosofia do infinito -, ou, eletronicamente:






    Jorge Hessen


    OPINIÃO DE JORGE HESSEN SOBRE "A QUEDA DOS ANJOS"



    Fernando , Urge convir melhor sobre o tema, pois recordemos que Kardec foi aperfeiçoando o melhor entendimento sobre o tema em questão , senão vejamos: A queda do espírito, ou o “pecado original”, tem suas raízes nos dogmas católicos. Kardec não se furtou em discuti-lo desde 1857, no Livro dos Espíritos até A Gênese, quando expõe a sua já admitida doutrina dos anjos decaídos, considerando aqui a possibilidade de que espíritos que perseveram no mal e que se tornam um embaraço para o progresso de um mundo (Capela) são excluídos deste e vão para um mundo menos adiantado (Terra) E o objetivo desta "queda" do espírito seria tanto a sua ajuda no progresso deste mundo inferior quanto a expiação de suas faltas e o seu consequente amadurecimento.

    Entretanto, esta teoria não veio totalmente pronta e foi se estabelecendo com o desenvolvimento do trabalho de Kardec. Na Primeira edição do L E questão 133 Kardec sonda se os espíritos podem se encarnar em um mundo menos perfeito do que àquele ao qual pertençam? O Espíritos confirmam que sim.

    Insiste o codificador: Mas então, uma vez que já ficaram apurados, por que suportam as tribulações de uma existência inferior? O além explica "Ê uma missão de contribuir para o progresso." Os espíritos que habitam em um mundo superior podem encarnar-se em um mundo menos perfeito; mas então isso não é uma expiação, é uma missão que eles cumprem assistindo os homens nas sendas do progresso, e que aceitam satisfeitos pelo ensejo que têm de praticar o bem.

    Na Segunda edição na questão 178 pergunta Kardec: Os Espíritos podem reviver corporalmente num mundo relativamente inferior àquele em que já viveram? Respondem os mentores: "Sim, quando devem cumprir uma missão para ajudar o progresso, e, nesse caso, aceitam com alegria as tribulações dessa existência, visto que lhes fornecem um meio de progredir."

    Insiste o codificador: Isso não pode ocorrer por expiação e Deus não pode enviar os Espíritos rebeldes para mundos inferiores? Foi informado que "Os Espíritos podem permanecer estacionários, mas não retrogradam; a sua punição, pois, é a de não avançar e de recomeçar as existências mal empregadas num meio conveniente à sua natureza."

    Retorna ao tema Kardec: Quais são aqueles que devem recomeçar a mesma existência? Os Benfeitores explicam mais uma vez: "Os que faliram em suas missões ou em suas provas."

    Mesta segunda edição Kardec já admite a possibilidade de que o espírito volte a encarnar em um mundo inferior para expiação. Por sua vez, na primeira edição só se admitia esta volta para uma missão. É interessante que nesta edição encontramos um diálogo mais direto sobre a queda dos espíritos e que não foi aproveitado na nova edição. Vejam:

    Primeira edição do LE Questão 61. Que pensar da crença nos espíritos decaídos? Explicam os Benfeitores "Já dissemos que todos os espíritos foram criados ignorantes e sem experiência; aprendem a verdade pelos testes a que todos são submetidos e nas missões que lhes são outorgadas. Aqueles que dão desempenho à missão sem nenhuma queixa avançam, os outros ficam para trás. Não são, portanto, decaídos; são, se quiser, rebelados; tal como a criança indócil para com o pai. Mas Deus não é impiedoso; fornece-lhes, incessantemente, os meios de se melhorarem; e cumpre-lhes aproveitá-los mais ou menos depressa, segundo a sua vontade, eis aí o livre arbítrio."

    Estudiosos afançam que a idéia da queda dos espíritos implica uma degradação; ora os espíritos, tendo todos igual ponto de partida que é o estado de ignorância e de inexperiência, não podem senão elevar-se ou ficar estacionários; não pode portanto haver queda no sentido vulgar ligado a esta palavra. E como a elevação depende da vontade pessoal, e da sua submissão à vontade de Deus, e que alguns espíritos não têm aceitado sua missão sem queixa, há no caso simples rebelião da parte deles, e eles ficam punidos por si mesmos, permanecendo maior temporada sob as penas inerentes à sua inferioridade, não porém eternamente, pois cedo ou tarde compreendem sua falta e avançam pouco a pouco. Não são porém anjos rebelados, visto como os anjos são espíritos já chegados à perfeição e que não podem degenerar.

    Neste diálogo observamos uma ênfase maior em não associar tal queda dos espíritos a doutrina espírita. Na segunda edição já há uma maior aceitação da idéia por encontrar espaço em uma nova interpretação de que estes espíritos poderiam expiar as suas faltas em um mundo inferior.

    Provavelmente, esta teoria foi se consolidando na medida em que os relatos de espíritos chegavam até Kardec demonstrando a possibilidade desta forma de expiação. Por exemplo, veja as respostas de um espírito familiar sobre a questão:

    Revista Espírita, outubro de 1858 “ Morte de cinco crianças por um menino de 12 anos” Item 10. Kardec indaga: Qual será a posição desse Espírito em uma nova existência? Explicam os Benfeitores: "Se o arrependimento vier apagar, senão inteiramente pelo menos em parte, a enormidade de suas faltas, então ele permanecerá na Terra; se, ao contrário, ele persistir nisso que chamais a impenitência final, ele irá para uma morada onde o homem está no nível do animal." (aconteceu isso com os capelinos vindos para a Terra)

    item 11, indaga Karde : Assim, pode ele encontrar, sobre essa Terra, os meios de expiar suas faltas sem ser obrigado a retornar para um mundo inferior? Explicam Eles do além: "O arrependimento é sagrado aos olhos de Deus; porque é o homem que julga a si mesmo, o que é raro em vosso planeta."

    Aparentemente, Kardec busca uma conciliação com as idéias universalmente aceitas sem, contudo, deixar de interpretá-las sob uma visão menos mística e conforme os princípios espíritas. Especialmente, no caso do mito da queda que faz parte da cultura cristã, Kardec procura aproximar o Cristianismo do Espiritismo sobretudo porque ambos compartilham da mesma mensagem de amor de Jesus. Observe que o que se desenha com clareza na segunda edição, além da aproximação e reinterpretação do mito dos "anjos decaídos”, é uma nova visão de evolução. 

    A evolução do Espírito adquire maior diversidade, e a riqueza das vivências em situações diferentes, apesar de aparentemente inferiores, também são momentos de evolução. Ou seja, a imagem da involução é ficção e a evolução em linha reta uma paranóia. Na segunda edição, aparentemente, começa a emergir outro modelo de evolução, que ainda convive, parcialmente, com o modelo da primeira edição.

    Portanto, não posso concordar com os arrazoados da tal queda dos anjos (exceto numa análise lógica como dos capelinos por exemplo, eles não caíram coisa nenhuma, apenas vieram para um planeta mais rude para no labor e sofrimento saírem do estacionamento mortal (mas não INVOLUIRAM). O espirito não retrograda em sua caminhada jamais.


    SOBRE O TEMA "QUEDA" HERCULANO PIRES ESCREVEU NO MARAVILHOSA OBRA "O VERBO E A CARNE", OUÇAMO-LO:

    A Metempsicose de Roustaing
    Mas há um aspecto do problema da reencarnação em Roustaing que merece tratamento especial. Como que tentando reajustar o sistema evolutivo de Kardec, admiravelmente harmonioso, coeren-te e portanto lógico, os “ministros de Deus” estabelecem uma estranha ligação entre os mundos fluídicos e os mundos materiais. Conseguem isso através de um expediente ridículo, determinando o retrocesso evolutivo dos espíritos altamente evoluídos, que nunca precisaram de encarnar-se. Esses espíritos angélicos repetem no Roustainguismo a façanha de Lúcifer, o anjo rebelado, mas de maneira deprimente, sem nenhum sinal da grandeza satânica da revolta bíblica.
    Há três pontos que devemos considerar, no exame desse pro-blema, com muita atenção:
    1º) Roustaing é um decalque de Kardec, mas em sentido cari-cato. Sua doutrina é uma caricatura da Doutrina Espírita com todas as deformações intencionais destinadas a ridicu-larizar o Espiritismo.
    2º) Roustaing – e com ele os “ministros de Deus” – não foi capaz de compreender o problema da evolução do espíri-to  em Kardec. O processo contínuo e seqüente da evolu-ção foi quebrado pela teoria roustainguista, dando ocasião a um retrocesso que devolve a doutrina da reencarnação à metempsicose antiga.
    3º) O restabelecimento da metempsicose não sendo mais pos-sível, diante da lúcida argumentação kardeciana a respeito e da natural evolução da cultura, os pseudo-teóricos da “revelação da revelação” foram cair mais uma vez na ar-madilha do ilogismo, oferecendo-nos uma doutrina mons-truosa da queda dos anjos, que só não apavora porque provoca riso.
    Os leitores interessados no assunto não precisam perder muito tempo com a consulta aos quatro volumes da obra indigesta. É difícil agüentar essa leitura maçuda. Basta examinarem a teoria roustainguista da reencarnação no primeiro volume de “Os Quatro Evangelhos”. É no exame dos capítulos de Mateus e Lucas sobre a genealogia de Jesus (vejam só!) que aparece, em meio do volume, páginas 300 e pouco da edição de 1942, a pergunta n.° 58 sobre as “substâncias humanas”. O livro foi tão mal feito que Guillon Ribeiro teve de reorganizá-lo para a edição brasileira. E assim mesmo não é fácil indicar os tópicos a serem examinados, em virtude da balbúrdia do texto. Experimente o leitor fazer uma citação dessas.
    A referida pergunta 58, por sua vez, bastaria para nos mostrar o estado mental do pobre Roustaing, que depois de uma doença grave, ao sair do hospital, foi logo envolvido pela falange mistifi-cadora. Vamos dar na íntegra a pergunta:
    “Haveis dito que os espíritos destinados a ser humanizados, por terem errado muito gravemente, são lançados nas terras primitivas, virgens ainda do aparecimento do homem, do rei-no humano, mas preparadas e prontas para essas encarnações, e que aí encarnam em substâncias humanas, às quais não se pode dar propriamente o nome de corpos, nas condições de macho e fêmea aptos para a procriação e para a reprodução. Quais as condições dessas substâncias humanas?”
    Os espíritos reveladores haviam dito que a evolução espiritual se processa em duas linhas: a dos espíritos que no início se desvia-ram para o mal e portanto ficam sujeitos às reencarnações, e a dos espíritos que nunca se afastaram do bem e por isso evoluem através de mundos etéreos. Mas mesmo esses espíritos bons estão sujeitos a cometer um destes três pecados: o ciúme, a inveja e o ateísmo. Assim, quando um desses espíritos bons comete um desses peca-dos é obrigado a encarnar em “substâncias humanas”.
    Vejamos os trechos principais da resposta dos espíritos revela-dores ao pobre Roustaing sobre as “substâncias humanas”:
    “São corpos rudimentares. O homem aporta a essas terras no estado de esboço, como tudo o que se forma nas terras primi-tivas. O macho e a fêmea não são nem desenvolvidos, nem fortes, nem inteligentes. Mal se arrastando nos seus grosseiros invólucros, vivem, como os animais, do que encontram no so-lo e lhes convenha. As árvores e o terreno produzem abundan-temente para a nutrição de cada espécie. Os animais carnívoros não os caçam. A providência do Senhor vela pela conservação de todos. Seus únicos instintos são os da alimentação e os da reprodução”.
    Notemos a absoluta incapacidade de Roustaing para compreen-der o que havia lido em Kardec sobre o desenvolvimento do princípio inteligente a partir dos reinos inferiores da Criação. Os espíritos reveladores, sempre matreiros, aproveitam-se disso e do precário estado mental e psíquico do advogado convalescente para elaborarem a mais ridícula teoria da reencarnação. E rematam essas explicações chocarreiras com esta afirmação:
    “As gerações se sucedem desenvolvendo-se. As formas se vão alongando e tornando aptas a prover às necessidades que se multiplicam. Mas não é nossa tarefa traçar aqui a história da Criação. O espírito vai habitar corpos formados de substâncias contidas nas matérias constitutivas do planeta. Esses corpos não são aparelhados como os vossos, porém os elementos que os compõem se acham dispostos por maneira que o espírito os possa usar e aperfeiçoar. Não poderíamos compará-los melhor do que a criptógamos carnudos. Podeis fazer idéia da criação humana estudando essas larvas informes que vegetam em cer-tas plantas, particularmente nos lírios. São uma massa quase inerte, de matérias moles e pouco agregadas, que rasteja ou an-tes desliza, tendo os membros, por assim dizer, em estado la-tente”.
    Essa é a “revelação da revelação”. Roustaing copia e desfigura Kardec acrescentando aos seus ensinos os maiores absurdos. Note-se que essas criaturas estranhas, em forma de larvas e lesmas, são encarnações de espíritos humanos que haviam atingido alta evolu-ção sem passar pela encarnação humana. Depois de desenvolverem a razão em alto grau e de haverem colaborado com Deus nos processos da Criação, chegando mesmo a orientar criaturas huma-nas, voltam à condição de “criptógamos carnudos”.
    Mas por que falam os reveladores em “substâncias humanas”? Por que não simplificam as coisas, dizendo simplesmente que esses espíritos decaídos vão encarnar-se em lesmas? Porque é preciso enganar os espiritistas que aceitam Kardec e sabem que a evolução espiritual é irreversível, que o espírito humanizado não pode regredir ao plano animal. É o mesmo processo de sofisma, de tapeação, usado na questão do corpo “aparente” de Jesus, quando falam em encarnação fluídica para escaparem ao anátema de João contra os que dizem que o Cristo não veio em carne. As “substân-cias humanas” dos “criptógamos carnudos” são uma invenção absurda e tola. E tanta gente a defender essas bobagens dentro do Espiritismo!
    Mas o que são “criptógamos carnudos”? Por que esse nome es-tranho? Tudo tem a sua razão na máquina infernal do ilogismo roustainguista, embora seja sempre a anti-razão que entra em cena. Apreciemos o assunto à luz da razão para tentar esclarecê-lo.
    A palavra criptógamo é empregada cientificamente para desig-nar certas plantas cujos órgãos reprodutores não aparecem, são ocultos. A origem do termo é grega: kryptos, que quer dizer oculto, e gamos que quer dizer casamento, união. Assim, criptógamo é um exemplar de espécie vegetal que tem os seus órgãos reprodutores escondidos. Os “reveladores” roustainguistas acrescentaram a palavra carnudo para adaptar a designação ao reino animal. Assim, “criptógamo carnudo” seria uma espécie animal (mas não animal porque formado de substâncias humanas) em que se encarnam espíritos humanos que regrediram ao plano vegetal e animal.
    Atenção para isto: quando dizemos que eles regrediram ao pla-no vegetal e animal não estamos forçando a interpretação. Cientifi-camente os animais semelhantes a plantas estão localizados na linha divisória dos reinos vegetal e animal, são desenvolvimentos de plantas. Se existissem esses “criptógamos carnudos” a Ciência os catalogaria como formas de passagem dos criptógamos vegetais para o reino animal.
    Temos assim a teoria da Metempsicose, tão seguramente refuta-da pela lógica de Kardec, devolvida ao meio espírita pelo ilogismo roustainguista. Bastaria esse triste episódio, colhido no caldeirão diabólico dos absurdos de Os Quatro Evangelhos para nos provar, sem a menor sombra de dúvida, que essa obra é de autoria das trevas e que a sua finalidade é confundir os espiritistas pouco habituados a passar as coisas pelo crivo da razão. Mais do que isso, porém, o objetivo evidente é o de ridicularizar o Espiritismo para dele afastar as pessoas de bom senso.