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  • 22 de fev. de 2019

    O “karma” é uma fábula pré-histórica mal contada (Jorge Hessen)

    O “karma” é uma fábula pré-histórica mal contada (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen 
    jorgehessen@gmail.com 
    Brasília/DF

    A liberdade de escolha dos nossos atos vincula-se à “Lei de Causa e Efeito”, ou seja, tudo aquilo que penso, que desejo, que faço determinam consequências naturais. A experiência da vida humana é circunstanciada por livres decisões vinculadas às implicações das escolhas. As Leis Divinas permitem assumirmos decisões livremente, contudo as escolhas geram resultados adequados ou desagradáveis, dependendo das opções. 

    No orbe humano Deus jamais pune e suas Leis não são e nunca foram de natureza punitiva, pois as escolhas que fazemos poderão trazer uma “colheita” natural e sempre proporcional ao “plantio”, consoante maior ou menor discernimento dos atos. 

    No mundo dos animais, um cachorro, por exemplo, age por automatismo, portanto não consegue fazer escolhas, exceto aquelas que estão dentro do espectro do seu instinto. O cão não tem livre arbítrio, logo seus “atos errados” não lhes podem trazer consequências negativas. Contudo, o ser irracional ensaia para vida racional, por esta razão, quando o irracional ingressa no mundo humano desabrocha-se lhe pouco a pouco a consciência e com ela a lei de liberdade, capacitando-o para as escolhas das ações, determinando os resultados ao nível da consciência alcançada. 

    A semeadura rende conforme os propósitos e consciência do semeador. A “Lei de Causa e Efeito” sincronizada às Leis “de Liberdade” e “de Responsabilidade” determina o rumo da existência humana. Portanto, somos livres para pensar e agir, porém somos , em algum nível, “servos” (responsáveis) por aquilo que fazemos, pensamos ou deixamos de fazer. 

    No movimento espírita defende-se a fábula de que TODO sofrimento do presente é fruto dos atos errados do passado, entretanto, no capítulo V do livro O Céu e o Inferno, Kardec diz categoricamente que o sofrimento atual é apenas resultado da imperfeição que ainda não nos livramos e não necessariamente de atos errados do pretérito. Indubitavelmente a lei do “karma” é uma lei contraditória, vingativa, fatalista. Seu princípio é - “bateu terá que apanhar”, “traiu terá que ser traído”, “matou terá que morrer” sempre numa ancestral evocação à antediluviana lei do “olho por olho dente por dente”. 

    No entanto, o bom senso kardequiano sussurra que não há um destino assinalado com acontecimentos detalhados nos punindo durante a reencarnação, conforme apregoam os místicos partidários do tal “karma”. A bem da verdade, o Codificador jamais citou a lei do “karma” na literatura espírita. A rigor, o tal “karma” é uma lei impensada e incongruente, por sua vez, a Lei de Causa e Efeito (contida na Codificação) é uma lei moral coerente que nos faz crescer e avançar consciencialmente. 

    O sofrimento é inerente a nossa imperfeição, ou seja, o orgulhoso sofre as consequências do orgulho e o egoísta sofre os efeitos do egoísmo, mas que fique bem fulgente uma verdade: ninguém reencarna para passar pela Lei de Talião, mas para superar a imperfeição e evoluir através do trabalho no bem no limite da força de cada um. 

    À luz da Doutrina dos Espíritos só existe um destino projetado para todas as criaturas, é o destino da evolução, do aprimoramento intelectual e moral mirando o conhecimento da VERDADE para a aquisição da pura e inexaurível felicidade. Não há fatalismos catastróficos em nosso destino. Jamais poderemos pronunciar que “o que está escrito está escrito” e nada modificará o nosso destino. Ora! Se acreditarmos nisso, renegaremos o livre arbítrio e a Lei de Misericórdia, que nos induz ao amor cobre a multidão dos atos errados. 

    Não somos uma máquina (robotizada), até porque sabemos decidir. Adquirimos consciências graduais sobre o chamado bem ou o mal, e isso estabelece os cenários das experiências agradáveis ou não em nossa caminhada. Deus instituiu leis que estão inscritas em nossas consciências. Com a Lei de Causa e Efeito conseguimos avaliar melhor as escolhas e com elas desenvolvemos o discernimento em face das decorrências naturais através das reencarnações. 

    Todos estamos num conjunto de forças providenciais que determinam uma certa quantidade de “intervenções” para que o livre-arbítrio possa ser operado. Mas todas as escolhas são nossas. Por isso, antes da reencarnação, o fluxograma da nova experiência física jamais será compulsório, porém sugerido amorosamente pelos especialistas do além, por causa disso elegemos o grupo familiar, a sociedade, a cultura, as condições socioeconômicas, a raça, o sexo. Tudo isso faz parte de nossa escolha, sugerida ou não pelos Espíritos mais esclarecidos antes da reencarnação, e tal decisão vai nos aproximar desta ou daquela influência de um grupo social que poderá ter um certo peso relativo nas nossas escolhas. 

    A liberdade é proporcional ao nosso estágio de evolução moral, por isso somos relativamente livres para certas decisões, mas não precisamos ser reféns das circunstâncias e fatores sociais, estruturas familiares, raciais, espirituais, “astrológicas”, numerológicas etc., tudo isso pode até influenciar-nos, mas não determinará as nossas resoluções a partir das nossas escolhas. Certamente tais influências podem impulsionar-nos às melhores ou piores escolhas, mas teremos inevitavelmente oportunidades para aprender com a vida. 

    É bem verdade que livros de Ivone Pereira, Chico Xavier, Divaldo Franco demonstram as concernentes influências do cenário social, político, econômico e cultural em que estamos colocados em algum nível pode estar de maneira relativa conexo a um cenário de vida anterior, mas sem implacáveis determinismos “cármicos”. Enfatizamos que nas leis divinas não existe punição ou recompensa. O Criador estabeleceu leis sábias e justas que determinam efeitos naturais ante nossas escolhas. 

    Apropriamo-nos da nossa vida e determinamos nossas existências com liberdade dentro da evolução. Por isso, responsabilizamo-nos pelas nossas existências, caminhando na vida de conformidade com que fazemos de nós mesmos. Essa autoapropriação da existência através da auto-responsabilização de tudo que acontece conosco dá-nos um certo sentido de domínio na relatividade da nossa existência sobre a aflição, a ternura, a alegria, a desventura. Naturalmente tudo o que nos acontece nos diz respeito, portanto não podemos imputar a ninguém a vitória ou o infortúnio daquilo que nos acontece, até porque o que nos ocorre é , na relatividade, um espelho do passado recente ou mais remoto e aquilo que podemos colher amanhã resultará relativamente da nossa semeadura do presente. 

    Somos os senhores e responsáveis pela vida, portanto, quando erramos podemos refazer a caminhada mediante novas escolhas, considerando que muitas vezes cometemos escolhas equivocadas e sorvemos os naturais efeitos delas , porém à medida em que ampliamos a consciência sobre os atos errados vamos diminuindo até mesmo os efeitos das escolhas , porque bancaremos escolhas mais apropriadas. 

    Fomos criados para a FELICIDADE! Portanto, ainda que diante de todas a dores e sofrimentos devemos encará-los com AMOR.