Oi Jorge Hessen
Um amigo deu-me de presente um
exemplar da revista Espiritismo&Ciência nº 99 da Mythos Editora onde li,
com vivo interesse, seu excelente artigo sobre Espiritismo e Religião,
onde você defende, de modo equilibrado, o Espírito Emmanuel, orientador do médium
Chico Xavier.
Quero parabenizar a você por sua
feliz iniciativa e peço a Deus que continue iluminando as mentes dos leitores
com sua escrita esclarecida, no âmbito da Doutrina Espírita.
Dentro desse contexto tenho uma
experiência singular com o Espírito Emmanuel.
Quando meu primeiro filho desencarnou
depois de cirurgia dramática e de muito sofrimento, todos nós estávamos
exauridos pelo enorme esforço que o tratamento exigiu de todos nós, noites sem
dormir etc.
O Chico veio ao Marietta Gaio (Bairro
Bonsucesso, Rio de Janeiro, RJ) e nós entramos na fila para dar um abraço
nele, nada mais.
*** estava ao lado do
Chico e cumprimentei a ambos e logo que Chico me viu falou: " ***... a família *** aqui ! Olha, não se preocupe, pois
ele volta!"
Detalhe: Minha mãe e eu havíamos
estado com Chico em Pedro Leopoldo, MG quando eu tinha 4 anos de idade ( hoje
eu estou com ... anos de idade).
Segundo minha mãe (Eunice, hoje com ....
anos de idade), eu pedi ao Chico um "queimado", pois na Bahia isto
significa bala do tipo puxa-puxa.
Chico perguntou à minha mãe:
" ***, o que este menino está
pedindo?". Minha mãe respondeu que eu pedia uma bala, um doce. Ele me
trouxe um doce de mamão que havia sido feito por ele mesmo.
Então, no Marietta Gaio, Chico me
disse: " ***, você está parecendo uma figura
bíblica ( referia-se à minha barba, e esta foto com ele está lá no museu do
Chico).
Conversamos alguns tópicos que me
interessavam na história de amor entre o poeta *** e sua esposa e ele me revelou fatos ocorridos depois da desencarnação
de ***, num encontro memorável de resgate do
pai-adversário (dizem que *** foi uma das
encarnações do Chico).
Despedimo-nos e, no dia seguinte, *** estava realizando uma palestra numa Casa Espírita do Rio, e eu havia
recebido um recado de um amigo comum que ele queria falar comigo.
Disse-me ***: "Ontem, depois que você saiu, Chico mandou um recado de Emmanuel
para você. Ele disse que você escreveu um artigo no Correio Fraterno do ABC
condenando as atitudes editoriais dos que se aproveitavam das mensagens
dele (psicografadas por Chico Xavier) para publicarem as frases da
mensagem de modo esparso, em páginas de clichês coloridos, caríssimos, que
inviabilizavam ao povo a possibilidade de ler as mensagens por causa do preço
de tais livros. Emmanuel mandou dizer para você que os ricos - que são os
podem comprar livros caros - também têm, assim, oportunidade de tomar
contato com a mensagem do bem, mesmo que adornadas entre clichês caros e
coloridos. Complementou dizendo que, a Treva Organizada do Espaço, que é
totalmente contrária aos livros dele, estavam achando que você pertence ao rol
dos espíritas que insuflam notícias contra o livro espírita,
principalmente da lavra mediúnica de Chico Xavier".
Jorge, eu fiquei chocado ao ouvir
isto, pois esta não era a minha intenção. Lembrei-me de alguns fatos estranhos
que ocorreram à época, incluindo-se a visita de um dos jornalistas mais
polêmicos da imprensa espírita à minha casa querendo que eu assinasse um libelo
declaradamente contra uma Instituição Espírita de renome no cenário brasileiro
e mundial.
Jorge, ao ler seu artigo, lembrei-me
desse fato inusitado que ocorreu comigo e, por isto, escrevo para você
solidarizando-me com sua escrita denunciadora dos que se utilizam da caneta ou
do teclado como se ela fosse uma arma contra uma entidade veneranda qual
Emmanuel, a quem tanto devemos.
Um abraço Jorge e peço a Deus que
você continue sua jornada de artigos em benefício do equilíbrio e da paz, do
senso e da coerência doutrinária.
***
Estimada ***,
Nobre irmã
Você mo permitiu reviver um momento de antanho mui agradável. Explico-lhe -
morei na Rua dezenove de outubro esquina a com a Rua Vieira Ferreira, em
Bonsucesso, na minha infância. Rememoro que no antigo “terreno baldio”,
contíguo ao lote da atual Fundação Marietta Gaio, brinquei com
intensidade , principalmente com bola de meia, isso nos idos da
década de 50 ( havia muitos terrenos vazios e um campo de futebol).
Mais tarde, na década de 70 vim para Brasília e daqui jamais regressei ao
Rio (exceto em viagem). Minha mãe continuou residindo em Bonsucesso. Em
1973 estive no Rio e junto com minha mãe fomos ver o Chico no Marietta.
Conversamos rapidamente com nosso amado Chico (coisa rápida), entretanto
suas palavras até hoje ecoam forte e docemente na minha consciência. O médium
de Uberaba falou-me diante de minha mãe sobre meu compromisso doutrinário
através da escrita. Dito isso, vamos ao trecho que aguçou um pouco mais a
minha verve de escritor espirita.
Preliminarmente exoro-lhe a permissão para analisar o trecho: “Disse-me ***: "Ontem, depois que você saiu, Chico mandou um recado de Emmanuel
para você. Ele disse que você escreveu um artigo no Correio Fraterno do ABC
condenando as atitudes editoriais dos que se aproveitavam das mensagens
dele (psicografadas por Chico Xavier) para publicarem as frases da
mensagem de modo esparso, em páginas de clichês coloridos, caríssimos, que
inviabilizavam ao povo a possibilidade de ler as mensagens por causa do preço
de tais livros. Emmanuel mandou dizer para você que os ricos - que são os
podem comprar livros caros - também têm, assim, oportunidade de tomar
contato com a mensagem do bem, mesmo que adornadas entre clichês caros e
coloridos. Complementou dizendo que, a Treva Organizada do Espaço, que é
totalmente contrária aos livros dele, estavam achando que você pertence ao rol
dos espíritas que insuflam notícias contra o livro espírita,
principalmente da lavra mediúnica de Chico Xavier".
Em considerando o porte moral e histórico do magnífico ***, contudo,
a frase conferida ao Chico, no mínimo, é suspeitíssima. Será que o Chico
proferiu tal "aviso"? O ***muitas vezes cita fontes
nas palestras que não coincidem . Posso provar isso
a qualquer momento (Ah! Sou historiador e sobrevivo das fontes.
rsrsr). De qualquer sorte , pelo sim , pelo não.... posso
despachar-lhe múltiplos testemunhos do Chico que aniquilam a frase do ***categoricamente.
Perdão pelas expressões aqui expostas!
Eis pequena divagação. Um dos primeiros artigos que publiquei foi em 1984,
exatamente nas páginas do Correio Fraterno do ABC. À época era diretor do
Dep. de Assistência Social da Federação Espírita do DF, cargo que assumi por
indicação do ***. Por ensejo do sinistro artigo publicado fui
"fraternalmente excluído" da Federação. O Presidente avaliou
ofensiva a cogitação do texto ,versando sobre o enigmático e intocável tema -
"Unificação ou Elitização?" - Título do artigo
"O Espiritismo unifica-se ou elitiza-se?"
Eu era ainda um moço, empolgado em face das responsabilidade assumidas ,
atinava que jazia "abafando". Porém, toda vez que exprobrava
sobre o imperativo de as federativas acercarem-se mais do povo para com ele
dialogar eu era visto como subversor da ordem, digamos que um tanto
clerical da instituição. Notava que os diretores não se aproximavam dos
iletrados, dos espíritas desempregados, nos espíritas faxineiros, das
confreiras empregadas domésticas , dos confrades assalariados etc...
Óbvio que esses maus exemplos ficaram estereotipados na minha consciência
e trajetória doutrinária.
Posteriormente, passei a residir em Cuiabá/MT, aí na capital
matogrossense fui convocado para assessoramento da presidência da
Federação do Estado. Na oportunidade consegui publicar um livro
historiando os primeiros movimentos e núcleos familiares espíritas no estado.
Aprendi muito. Retornei a Brasília e novamente fui convidado para assessoria da
Presidência da Federação Espírita do DF. Recordo que à época prefaciei
o primeiro livro de autoria do presidente ***. Fiquei junto à coordenação do Jornal União da
Federação e fui remando o barco rio acima, até que certo dia de
intensa intuição decidi improvisar itinerário solo , sob riscos e
responsabilidades próprias.
Fiquei mais solto, portanto menos algemado às convenções da composição
doutrinária “organizada” , a fim de livremente executar a tarefa que o Chico
transmitiu-me em Bonsucesso. Desde então, meu compromisso tem sido e será para
sempre e exclusivamente com minha consciência, com Jesus, com Kardec e com
Emmanuel. Entendo que não deveria ser diferente a trajetória de um escritor
espírita. Sem liberdade não se consegue escrever , ainda que de maneira equivocada,
mas sem liberdade ninguém tem ânimo para fazê-lo.
Em face disso, escrevo sobre assuntos normalmente ainda não
pacificados. São mais de 400 artigos publicados e diversos deles
intensamente intrigantes, incisivos, mas segundo meço , imprescindíveis.
Não arrisco consignar temas do tipo
“chover no molhado”, para mim, muito melhor é manter uma boa e
cogente polêmica “do que ter a velha opinião formada sobre tudo” como já
dizia o velho Seixas.
à guisa de ilustração para nosso intercâmbio , envio-lhe abaixo alguns
links que retratam um bocadinho o meu desacordo quanto à frase dita pelo
*** a você , infelizmente atribuída ao estimado Chico:
Lamentavelmente existem mais de uma centena de artigos meus publicados em
diversos canais cibernéticos , quase sempre sobre tais recorrentes e
fadigosos temas...Contudo, enquanto o movimento espirita aprovisionar-me de
elementos estranhos ao projeto doutrinário , segundo meu ponto de vista é
claro! não silenciarei e nem sei se emudecerei quando estiver nas sítios
(sofridos ou não!) para além da minha tumba.
Se considerar que deve manter contato
comigo ate mesmo para admoestar-me, vou gostar e antecipo-lhe
que adoro ser advertido mas , antes aprecio um bom debate. Assim aprendo com os
mais sábios e você é um sábio, sem dúvida nenhuma!
Cordial e Fraternalmente,
Jorge Hessen