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  • 12 de fev. de 2010

    CENTRO ESPIRITA E AS PRÁTICAS ESTRANHAS


    Al....: Olá Jorge
    Há tempos recebo os artigos que tem escrito com reflexões interessantes e positivas.
    Quero parabenizá-lo pelos artigos que estão numa linguagem acessível e bastante elucidativa também.
    Ano passado participei de um curso (mundial) chamado Gaia Education – design em sustentabilidade e pude tomar pé de muitas coisas interessantes sobre o uso dos recursos do nosso planeta, coisas que eu pouco tinha pensado até então. A partir do curso, mudei minha postura perante a vida e meu consumo e, comecei a pensar no movimento espírita (já estou há mais de 15 anos) e a conseqüência dos atos que fazemos nos centros espíritas, em relação aos temas: consumo, descarte, beneficência, assistencialismo... Gostaria que me ajudasse a refletir e ampliar esse pensamento/debate. Seguem alguns aspectos que tenho notado como importantes de serem repensados:
    1 - festas nas casas espíritas – sempre recheadas de quitutes gostosos e suculentos, gordurosos e nada saudáveis. Penso que mesmo havendo o livre arbítrio, não acho que o centro espírita seja local para se cultivar a comilança e o desregramento, muito pelo contrário, é uma casa de educação. Acho a festa bem vinda, pela confraternização, em especial para o convívio entre os jovens, mas, por que não cultivar hábitos mais saudáveis? Vejo festas do dia das crianças que o primeiro pensamento é as balas e guloseimas... como se o comer fosse o mais importante. Me pediram sugestão para a festa das crianças e eu coloquei da seguinte forma: roda de dança entre todos, pais e filhos e jogos de caneta e papel, filhos com pais trocados e jogos de tabuleiro, no final jogo cooperativo com todos e finalizando, uma dança circular cantada. Em seguida, troca de brinquedos entre as crianças, cada um levava o seu e trocava livremente. Por fim um lanche com pastas e torradas, frutas, água, chás e sucos. Nem me responderam.. .rsrs Penso que o convívio seria o mais esperado pelas crianças. Mas, ao invés, fizeram a festa comilança de sempre.
    2 – beneficência e assistencialismo – bolsa família, bolsa isso, bolsa aquilo e as igrejas, centros e ONGs distribuem as cestas básicas para os “assistidos”. Conheci uma mãe que estava inscrita em mais de 4 igrejas, fora as bolsas do governo. Isso desestimula o trabalho, a busca, a criatividade e a auto educação. No lugar sugeri ao centro que freqüento, a Feira de Troca que poderia ser mensal ou semanal, no lugar das cestas. Cada um iria para a feira trocar. Participei de uma feira de troca em São Paulo (Glicério) e tinha alguns origamis que eu fiz para trocar. Uma criança de rua me pediu um deles e eu falei que estava trocando. Ele disse: Ah, tio... eu sou de rua, não tenho nada pra trocar... Aí eu falei que ele era jovem, bonito, não tinha nenhum defeito e que ele pensasse o que ele sabia para trocar comigo. Não deu 2 minutos ele voltou e disse: tio, eu sei fazer um barco de papel. Então ele me ensinou o barco de papel e eu ensinei a ele o Tsuru. Olha a criatividade... com esse capital social, ele foi em várias barracas trocando. Imagino um exercício de cidadania os centros espíritas estimularem seus adeptos a trocarem produtos, serviços e saberes numa feira dessa. Nada de humilhação em dar, ou assistencialismo... mas, tocar. Cada um busca o seu capital social, o que sabe, o que tem, o que faz e troca. Até criar uma moeda social (em referência ao seu brilhante artigo) seria viável...
    3 – Água fluidificada e os copinhos descartáveis – Isso é grave... a quantidade de lixo que os centros produzem com os copinhos para os passes com água fluidificada. Sugeri ao que freqüento abolirem a água ou instruir para que cada um traga a sua garrafinha ou copinho. Menos gasto, menos lixo e mais participação e educação, uma vez que haveria que se explicar porque foi abolida a água...
    Ainda tem outros assuntos delicados como venda de produtos, clube disso, festa para levantar fundos, jantares, bingos e campanhas de arrecadação e captação, etc... que poderia ser feito de outra maneira e não copiando os paradigmas capitalistas do lucro. Parece muitas vezes que a busca do dinheiro está mais no centro de atenções do que a assistência ao freqüentador, aluno ou “assistido” do centro espírita.
    Penso que estes e outros assuntos polêmicos deveriam ser mais discutidos pelos dirigentes dos centros, afinal Kardec nos falou: amai-vos e instruí-vos.
    Abs
    Al........

    Jorge Hessen: Primeiramente, devo parabenizá-lo pela participação no curso Gaia Education – design e sustentabilidade, pois revela ser um irmão preocupado com a formação de cidadãos conscientes da correlação que existe entre o homem e o meio ambiente, da necessidade da preservação da natureza e de suas variadas formas de vida. Essa nova concepção de mundo, a partir dos conceitos da geologia e da ecologia, redimensiona a relação da humanidade com a natureza, mostrando-nos a finitude e a fragilidade dos recursos naturais. Mesmo porque, as grandes transformações do meio ambiente, produzidas pelos complexos aparatos industriais e tecnológicos das megalópoles, colocaram sérias interrogações à tradicional visão contemporânea de que o homem pode dominar a natureza de modo inexorável. O novo cidadão se coloca, então, frente a uma nova realidade: a de conhecer o mundo em que vive como condição intrínseca para o desenvolvimento de sua própria cidadania. Vivemos em um mundo movido por capital (dinheiro e consumo), porém, temos que ter a consciência de que o principal combustível dessa forma de “evolução”, material, digamos assim, é o próprio planeta. Enfim, se não for dessa forma, não haverá desenvolvimento e, muito menos, sustentabilidade.
    Dando continuidade à minha humilde análise do seu email, achei formidável a sua postura diante daquela criança, foi extremamente criativa e conveniente para aquele momento, momento de troca e não de doação.
    Não podemos, no entanto, fechar os olhos para as desigualdades sociais. A atividade cristã de ajuda ao próximo tem papel fundamental em nossas vidas, pois o Mestre de nossas almas nos advertiu quanto à necessidade de nos amarmos como irmãos. Sou favorável à educação, obviamente, principalmente quando se ensina amar a Deus, mas, em se tratando de condições dignas de sobrevivência, você há de convir comigo que não podemos generalizar. Há pobres e miseráveis convivendo conosco, sem qualquer condição de ser inserido no mercado de trabalho. A possibilidade de soerguimento é nula. Logo, sou favorável a toda e qualquer ajuda que possa minimizar a dor de um irmão. Os primeiros suspiros “espíritas”, de servir aos privados da sorte, vêm desde a época de Kardec, com as conhecidas “subscrições”, que nada mais eram que “moedas sociais”, doações às pessoas necessitadas de ajuda humanitária. Toda e qualquer participação das Igrejas e ONGs é bem-vinda. Jesus esteve entre nós com a finalidade de criar uma religião? Não! Veio para nos ensinar a “amar o próximo como a si mesmo”.
    Não considero saudável introduzir jogos na Casa Espírita, como não concordo com as tais comilanças e, muito menos, ainda, com o comércio em seu espaço físico.
    Lamentavelmente, meu irmão, o que venho presenciando, nos meus trinta e poucos anos de Doutrina Espírita, é que os Centros Espíritas, nos dias atuais, diferem, e muito, daqueles do passado. Por outro lado, percebo uma crescente aceitação da nossa doutrina no mundo inteiro, malgrado os indivíduos que se colocam diametralmente contrários à visão espírita. Sigamos em frente, meu irmão, fiéis a Jesus e à nossa incomparável doutrina, pois o trabalho nos espera e a seara é grande.
    Fraternalmente,
    Jorge Hessen