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  • 12 de mar. de 2010

    FUMAR UMA QUESTÃO DE INSENSATEZ

    Fernanda: Boa tarde Jorge,
    Meu nome é Fernanda e acabo de ler seu artigo referente a visão do tabaco no meio espírita. Achei muito interessante e quero registrar os meus sinceros parabéns e agradecimento pela oportunidade de compartilhar o conhecimento e idéias.
    No entanto estou com algumas dúvidas principalmente relacionadas a visão em que a doutrina tem sobre as empresas tabagistas? Quais seriam a responsabilidade (perante a visão moral e espírita) dos espíritos encarnados e que contribuem direta e indiretamente para a produção deste e outros produtos prejudiciais a humanidade? Veja que aqui coloco a posição de pessoas trabalhadoras de todas as áreas (que vai desde os responsáveis pela limpeza do ambiente, até operadores de máquinas, vendedores e presidência). Estes colaborados na sua maioria conhecem os malefícios do produto produzido, mas possuem total ética e postura bastante correta no ambiente de trabalho, muitas vezes são pessoas bastante humildes inclusive.
    Como identificar se esta contribuição é realmente válida ou se está estes seres acumulando novas dívidas e bagagens que deverão ser corrigidas posteriormente?
    Pessoalmente, tenho muitas dúvidas sobre atividades de trabalho que realmente trazem contribuições úteis para a humanidade. Não tenho certeza se somente a postura do trabalhador faz diferença ou se o mesmo também se responsabiliza pelo resultado e contribuição final.
    Bom, espero ter conseguido transmitir a minha dúvida.
    Muito obrigada pela atenção e fico na espera de seus comentários,
    Fernanda



    Jorge Hessen: Prezada irmã



    Muito interessante os seus questionamentos e eu, frente a essas interrogações, e, como espírita, não lhe posso omitir a visão da Doutrina Espírita sobre essas questões.



    A Humanidade ainda é uma “espécie” bastante conservadora, porque, passam-se os séculos e muitos dos maus costumes do passado, transmitidos de geração a geração, ainda hoje, são mantidos vivos.
    Não podemos precisar, com exatidão, em que momento o tabaco passou a fazer frente aos costumes humanos. Alguns historiadores afirmam ter sido na América, outros registram a Pérsia; outros dizem que na África; e ainda há os que relatam ter sido na Austrália. Sabe-se, porém, que, em princípio, fumava-se por simples “prazer”, ignorando, obviamente, a causa dessa sensação de bem estar enganosa.
    Até bem pouco tempo, significava “status” em determinadas ocasiões; hoje é démodé. Para muitos, significa segurança psicoemocional, infelizmente, mas esse argumento sabe-se que é pura ilusão.
    Notadamente, a Doutrina Espírita vem exercendo uma influência muito positiva nas mentes humanas quanto a reprimir todo tipo de malefícios que causamos a nós mesmos e aos outros. Observe-se, porém, que o Espiritismo não opera “milagres”, mesmo porque, milagres só existem em crenças, evidentemente, não verdadeiras, mas que persistem por tradição.
    A autoconscientização não acontece da noite para o dia, mas requer um tempo considerável para sentir seus primeiros efeitos. Mesmo assim, considerando esses efeitos no todo social, podemos observar uma mudança no comportamento humano em relação o uso dessa droga, pelo muito que a Ciência vem alertando, através da mídia.
    Nem o Estado e nem tampouco as empresas tabagistas têm interesse em “inumar” essa espetacular fonte de riqueza, pois, uma atividade econômica, cultivada em toda parte do mundo, envolvendo milhões de dólares para as empresas e lucros monumentais para o Estado, auferidos com a arrecadação dos altíssimos impostos que incidem sobre elas, é mais que suficiente, lamentavelmente, para ignorarem as conseqüentes doenças associadas ao vício de quem se vê dependente.
    A nossa legislação penal estabelece duas faces da “moeda” criminal: paga-se pelo crime doloso e, menos, pelo crime culposo, mas ambos são crimes.
    As empresas, é certo, não tinham, em princípio, a intenção de matar, pois se os homens multiplicam suas necessidades, multiplicam-se as fontes, e, por isso mesmo, foram constituídas, mantidas e fortalecidas mediante lei da oferta e da procura; mas hoje, o reverso da moeda é mais que legítimo, pois a chaga do egoísmo irracional prepondera sobre o sentimento racional.
    Pois bem, minha irmã, a Doutrina Espírita nos ensina o seguinte: “o homem é mais culpável à medida que sabe melhor o que faz. As circunstâncias dão, ao bem e o mal uma gravidade relativa. O homem, frequentemente, comete faltas que, por serem a conseqüência da posição em que a sociedade o colocou, não são menos repreensíveis; mas a responsabilidade está em razão dos meios que ele tem de compreender o bem e o mal. É assim que o homem esclarecido que comete uma simples injustiça é mais culpável aos olhos de Deus do que o selvagem ignorante, que se abandona aos seus instintos.”
    Fernanda , obviamente é importante levar em consideração a estrutura econômica do interesse e da harmonia coletiva, na qual tantos trabalhadores tiram o seu sustento, o seu ganha pão. Suas engrenagens não podem ser destruídas repentinamente , sem graves e perigososas conseqüências sociais. Harmonizemos a consciência com a mente no futuro, sendo justo trabalharmos, bravamente, pelo advento dos tempos novos em que os homens terrestres não mais precisarão fumar para ter “prazer”.
    Desses esclarecimentos, podemos tirar nossas próprias conclusões sobre a responsabilidade que cabe a cada um diante da vida.
    Fraternalmente,
    Jorge Hessen